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VERGONHA QUE MATA

VERGONHA QUE MATA

Vergonha que mata

O câncer de próstata tem como aliado a vergonha de muitos homens em fazer o toque retal, essencial para evitar uma das doenças que mais matam no Brasil.

Até meados dos anos 90, os médicos tinham no diagnóstico precoce a única arma eficaz contra o câncer de próstata – glândula de 2,5 centímetros de diâmetro responsável pela secreção do líquido que serve de veículo aos espermatozóides.
 
Os exames preventivos continuam imprescindíveis, mas descobertas recentes da oncologia mostram que, com o controle de alguns dos fatores de risco da doença, é possível retardar o nascimento de um tumor. Há evidências de que a chave para domar o mal está na alimentação.
 
Não exagerar no consumo de carne vermelha, leite e derivados ajuda a reduzir as probabilidades de surgimento do câncer. Trata-se de uma medida simples, mas nem por isso fácil, que pode limar um dos maiores pesadelos masculinos – o tumor de próstata é hoje o segundo na lista dos mais freqüentes e o terceiro no rol dos mais letais entre os brasileiros.
 
O excesso de gorduras, presentes nesses alimentos, ativa a produção de testosterona, o hormônio masculino por excelência. Além da conta, a testosterona pode causar o aparecimento do câncer em quem tem predisposição. A substância intensifica a proliferação das células prostáticas e, com ela, a ameaça da doença.
No Brasil, até a década de 70, os tumores eram diagnosticados sobretudo em homens a partir dos 65 anos. De lá para cá, vem aumentando a incidência entre aqueles que estão na faixa dos 50.
 
O fato de a dieta nas grandes cidades do país ter-se “americanizado” nesse período não é coincidência. Nos Estados Unidos, terra da gordura, o câncer de próstata mata um homem a cada catorze minutos. Estudos mostram que uma dieta rica em fibras é de grande valia na prevenção. Como não são digeridas pelo organismo, as fibras funcionam como uma espécie de coletoras de lixo. As moléculas de testosterona supérfluas se grudam a elas e são eliminadas.
 
Outro elemento de risco é o uso indiscriminado de adesivos cutâneos, injeções e pílulas de testosterona. O hormônio sintético vem sendo utilizado como panacéia para problemas que surgem com o passar do tempo – em especial a diminuição da libido e a perda de massa muscular. Sem orientação médica, esses artifícios podem causar estragos irreversíveis, e não só na próstata. O fator hereditário conta bastante.
 
O perigo duplica para filhos e irmãos de vítimas do mal. As estatísticas tornam-se ainda mais dramáticas se também o avô ou um tio sofreram ou sofrem da neoplasia. Os riscos, aqui, são cinco vezes maiores. 
 
O que torna o câncer de próstata ainda mais devastador é a ausência de sintomas. Ele cresce de forma bastante lenta e cerca de 80% dos tumores não se expressam clinicamente. Nos 20% restantes, um dos sinais mais freqüentes é a dificuldade de urinar. Deixado a seu próprio curso, transforma-se em uma neoplasia das mais agressivas. A cada dois anos, o nódulo maligno dobra de tamanho.
 
Quando ultrapassa os limites da próstata, espalha-se com rapidez e, na maioria dos casos, é incurável. Suas metástases atingem principalmente os ossos, causando dores terríveis nas costas e nas pernas.
 
Quando o tumor é detectado em fase inicial, as chances de cura variam de 70% a 90%. E isso só é possível com exames periódicos. O mais antigo deles é o do toque retal – adjetivado, certa vez, de “infame”. Por vergonha, muitos homens se recusam a fazê-lo. O preço pago pelo constrangimento pode ser alto.
 
O toque é indispensável e deve começar a ser feito a partir dos 40 anos para quem tem histórico familiar. Para os outros, bastam exames anuais depois dos 50. Com um simples encostar de dedo, o urologista é capaz de perceber se a próstata mantém a consistência elástica ou se está endurecida. O endurecimento é sinal de que algo pode estar errado.
 
O “toque infame”, no entanto, não é dos exames mais precisos. Deixa de flagrar 30% dos cânceres. Em meados da década de 80, um novo teste foi incorporado à rotina de prevenção ao câncer de próstata: a dosagem de PSA, uma proteína produzida pela glândula.
 
 
Com a análise de suas concentrações no sangue, é possível detectar tumores microscópicos. Combinados, o PSA e o toque retal dão aos médicos um diagnóstico de certeza quase absoluta.
Apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas – hoje mais precisas e menos invasivas –, há sempre o risco de seqüelas. Entre os 50 e 55 anos, 40% dos pacientes submetidos a uma prostatectomia radical, cirurgia de extirpação da próstata, sofrem de algum grau de impotência sexual.
 
Acima dos 65, esse número pula para mais de 80%. Por isso, leitor, deixe a vergonha de lado na hora de realizar os exames de prevenção.
 
E pense duas vezes antes de repetir o churrasco do fim de semana passado.
  
Fonte Fonte: VEJA Sua Saúde – 28/3/2001. 

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