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PESQUISA QUESTIONA FUNÇÃO PROTETORA DA GORDURA “BOA”

PESQUISA QUESTIONA FUNÇÃO PROTETORA DA GORDURA “BOA”

A troca da gordura saturada de origem animal pelos óleos vegetais começou a ser recomendada pelos médicos para melhorar a dieta e proteger o coração desde a década de 1960. A banha de porco usada na cozinha saiu de cena e entraram os óleos de milho e girassol, entre outros.

Mas um novo estudo, que recuperou dados de um trabalho realizado entre 1966 e 1973 na Austrália, questiona essa recomendação e mostra que há muito mais no meio do caminho entre a gordura saturada animal “má” e a gordura vegetal “boa”.

Os dados recuperados pertencem a uma pesquisa que avaliou mudanças na dieta em quase 458 homens de 30 a 59 anos que havia sofrido problemas cardíacos.

Eles foram divididos em dois grupos: um deles foi instruído a reduzir o consumo de gordura saturada para menos de 10% das calorias ingeridas por dia e aumentar o de poli-insaturada, usando óleo vegetal e margarina, de 6% para 15% das calorias diárias; o outro não recebeu orientações sobre dieta.

Os resultados revistos agora e publicados no “British Medical Journal” demonstram que os homens que aderiram ao óleo vegetal tiveram uma mortalidade mais alta do que os demais, o que contraria a expectativa inicial.

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Segundo os autores, liderados por Christopher Ramsen, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, o achado pede uma revisão de recomendações de dieta. A Associação Americana do Coração, em suas diretrizes sobre consumo de gordura, recomendam o uso dos óleos vegetais com ômega 6 para reduzir o uso de gordura saturada animal. No Brasil, as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia também incluem a recomendação da troca da gordura saturada pelo ômega 6 para reduzir o colesterol, apesar de fazerem ressalvas quanto à proporção ideal entre esse tipo de gordura e as demais, principalmente o ômega 3, encontrado em peixes e que já tem bem estabelecida sua ação protetora. “Só somos vivos porque comemos tudo em equilíbrio. Não adianta comer só proteína nem só ômega 3”, afirma o nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni, um dos autores da diretriz brasileira, publicada neste mês. Segundo o nutrólogo Celso Cukier faltam mais estudos que esclareçam qual é o equilíbrio ideal para obter uma dieta mais protetora. A quantidade de gordura saturada precisa ser limitada porque, além de trazer energia para o corpo, aumenta o colesterol.

A troca pelo óleo vegetal tinha como objetivo reduzir o colesterol e evitar os infartos e derrames. Segundo os autores da nova pesquisa, a maior tendência do ômega 6 à oxidação e sua possível ação inflamatória podem ter contribuído para o mau resultado da dieta. Cukier chama a atenção para a redução do colesterol mas não da mortalidade. “Esse estudo mostra que não basta substituir a gordura saturada, ela não é a única vilã. É preciso saber pelo que estamos trocando.”

 

DÉBORA MISMETTI EDITORA INTERINA DE “CIÊNCIA+SAÚDE”

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